sexta-feira, 18 de junho de 2010

Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não

Artigo publicado no Notícias de Almada, de 18 de Junho

Anda engraçada a democracia em Almada. Não bastavam os «fóruns de participação» manipulados pelo aparelho comunista e as «consultas públicas» quase clandestinas e sem quaisquer efeitos, como os eleitos da CDU tentam agora calar a oposição que não alinha em cumplicidades e distribuição de lugares.

Numa reunião da Comissão de Ambiente da Assembleia Municipal o CDS aproveitou a presença da Senhora Vereadora do Urbanismo e Planeamento para questionar a insistência da Câmara Municipal na Estrada Regional 377-2, um projecto terrível para o concelho. As questões colocadas deixaram alguns representantes dos partidos que suportam a construção desta estrada bastante incomodados, o que não deixa de causar alguma perplexidade. Mas muito pior foi a reacção da Senhora Vereadora da Câmara Municipal de Almada. O único comentário, e passo a citar, foi: «Não estou para vir para aqui ouvir parvoíces».

Mais tarde, em sessão da Assembleia Municipal, a Presidente Maria Emília Sousa foi questionada por uma cidadã quanto ao futuro das Terras da Costa. Face à intervenção da edil, o CDS foi forçado a desmentir, exibindo documentos oficiais, a versão de fantasia que a Câmara apresentava. A reacção foi destemperada e a Presidente da Câmara pretendeu que o Presidente da Assembleia me silenciasse.

Alguns dias antes, na sessão comemorativa do 25 de Abril, o discurso do CDS havia sido acompanhado pela debandada da Presidente da Câmara e de alguns dos seus seguidores próximos, num insulto à democracia que, apesar de insólito, não surpreende.

Mas afinal o que está em causa? Em Almada, o património natural, a paisagem, a memória colectiva de um povo e o direito ao trabalho de dezenas de agricultores estão a saque, numa história escrita a quatro mãos e que as gerações futuras irão julgar severamente.

Em Maio, a Câmara Municipal de Almada, ao arrepio do poder judicial onde o caso está a ser julgado, entrou com violência pelos terrenos agrícolas das Terras da Costa e destruiu impiedosamente o modo de subsistência daquelas famílias. Terras únicas na Europa, de elevada produtividade, conquistadas ao mar numa história ancestral espantosa, vão sucumbir ao betão.

Para construir habitação ao abrigo de um Plano de Pormenor ainda não aprovado a autarquia escolheu os melhores terrenos do concelho. Precisamente os mesmos que estão ameaçados pela Estrada Regional 377-2 e a estranha coligação de interesses que junta CDU, PS e PSD (e o silêncio cúmplice do BE) em torno de um projecto criminoso.

A Estrada da Vergonha tem um traçado absurdo e um custo elevadíssimo, não respeita o Plano Director Municipal e repete em grande parte a Via Turística reprovada pelo Supremo Tribunal Administrativo. Então por que razão alguém no seu perfeito juízo quererá destruir as Terras da Costa, a Área Protegida da Arriba Fóssil, a Reserva Ecológica e a zona primordial bicentenária da Mata dos Medos? Qual é o valor da especulação imobiliária que se adivinha?

Quando a ONU propõe às cidades do século XXI a agricultura urbana como desígnio, a Câmara Municipal de Almada prossegue na sua política parola e perversa assente em betão, palmeiras e guardanapos de relva, suportada por muita propaganda à custa do dinheiro público e da distribuição de subsídios.

Os agricultores das Terras da Costa são só mais umas vítimas desta figura sinistra que tem procurado apagar a memória de um concelho. Mas não estão sós. «Sim, nestes tempos do triunfo total da desumanidade, tornou-se evidente que tudo o que foi criado pela violência é insensato, inútil, sem alcance, sem futuro.» (V. Grossman)

Fernando Sousa da Pena
Deputado Municipal do CDS-PP

5 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns. Haja um político com clarividência em Almada.

EMALMADA disse...

Bom artigo dirigido à população.
Para se fazer oposição é fundamental inisitir na denúncia dos erros, que estes autarcas fazem, para que não caiam no esquecimento.
Felicito-o

Caparicana disse...

Boa tarde!
Prof. Fernando da Pena quero agradecer-lhe a forma isenta e como tem estudado toda a cronologia das Terras da Costa Caparica.
Os erros tem sido muitos por parte da Câmara e continuam...
Basta ler o que publicaram no panfleto Tu-ris Costa sobre as Terras da Costa.
Quando a Câmara escreve o que escreveu BARBARIDADES E MENTIRAS nada mais há para dizer.
Os meus parabéns e continue como um Homem de verdade e a exercer a Cidadania sem medo .
Maria Luísa Lima

Anónimo disse...

Li no jornal e gostei muito. Acho que o vosso partido está a marcar muitos pontos na política em Almada, numa causa que aparentemente não traz votos mas em que têm mostrado seguir a vossa consciência. Muito obrigada.

Caparicana disse...

As Terras da Costa constituem uma faixa de terreno plana e de cariz agrícola localizada entre a Arriba Fóssil, a cidade da Costa de Caparica e o cordão dunar. A sua origem remonta ao sismo de 1755, o qual motivou a emersão de uma vasta área anteriormente pantanosa e na qual se veio a fixar população.
Numa primeira fase, era cultivada predominantemente a vinha e os cereais. Actualmente, a produção baseia-se no hortícola de regadio, aproveitando a fertilidade originada pela junção de solos de características arenosas à grande riqueza hídrica no subsolo.
Com uma ER-377 que não é necessária só irá destruir esta zona privilegiada que tem 5 protecções, mas que tem um bairro clandestino plantado no meio das quintas o que restará... E não me venham dizer que a Câmara Municipal de Almada não viu crescer o bairro , que cresce que nem cogumelos numa zona protegida , porque eu não acredito.
Iremos repor a verdade e a legalidade esperamos que não sejamos novamente rodeados de tantos agentes de segurança porque somos pacíficos as nossas armas são o trabalho árduo , não há necessidade de usar a força , nem de estragar a colheita que uma parte estava quase á apanha quando a fome grassa por todo o lado nem agarrar os camponeses de forma agressiva ou rasgar o kispo a uma das trabalhadoras , nem proibir de tirar fotos depois de estar vedado nem tantas carrinhas de intervenção não se anda a roubar enfim ... pelo menos parece-me pelo que ouvi na Assemb. da Câmara e pelo que li num boletim da TurisCosta que já tinha se tinha iniciado a em Maio perto das "Torres das Argolas" , construção de 146 fogos. Apesar da inverdade a Senhora Presidente segue em frente com a "SUA VERDADE" que está " ERRADA ".
Queremos salvaguarda esta zona única queremos continuar a produzir e a comer e a dar de comer produtos genuinamente Portugueses , não se pretendendo uma estrada com 4 vias 2 ciclovias mais as bainhas , as rotundas os túneis e posteriormente a passagem do comboio .
QUEREMOS A VERDADE APURADA , A DEMOCRACIA REPOSTA.
Parabéns ao CDS que até hoje não nos deixou de apoiar a nível psicológico e com a sua presença presencialmente ou telefonicamente.
Bem Hajam.
Maria Luísa Lima