domingo, 2 de junho de 2013

Sobre o cadáver do Polis...

Transcrevo a minha intervenção na última Assembleia Municipal, na discussão da proposta do Município para a reprogramação do Polis da Costa da Caparica. A proposta acabaria aprovada pela maioria comunista e os partidos que habitualmente a apoiam nestas tratantices do ordenamento do território: BE, PS e PSD. 


A proposta que nos foi trazida pela Câmara Municipal é um testemunho das razões pelas quais os cidadãos tantas vezes se afastam da vida política. Porque ela materializa a falta de pudor pelo esbanjamento do dinheiro dos contribuintes.

O Polis é um programa que nasceu morto e cresceu ensombrado por erros elementares de planeamento, soluções técnicas incompetentes e descontrolo financeiro.

Esta autarquia, na ânsia dos lucros do imobiliário, tem décadas de massificação urbana e suburbanização, destruindo a paisagem e o potencial turístico da região. A Costa da Caparica é só mais uma das suas vítimas. São muitos anos de incúria e oportunidades perdidas, em que a simples localização geográfica deveria ter sido um apelo ao cuidado.

Depois veio o Polis. Dinheiro, muito dinheiro, dos portugueses e a que poucos deve ter aproveitado. E mais outra oportunidade perdida. Planeamento a retalho. Falta de imaginação. Pressão imobiliária sobre o litoral. A ideia peregrina de despejar 17 mil utentes de parques de campismo sobre a já massacrada população da Charneca, como se não bastasse, à custa do abate de quase 10 mil árvores. O incentivo ao turismo de toalha e chinelo. A pedra de toque do assalto a Reserva Agrícola, Reserva Ecológica Reserva Botânica e Paisagem Protegida, com a estrada regional 377-2. Eis o Polis no esplendor dos seus autores e dos autarcas que o têm aplaudido.

Os resultados estão à vista. Seriam caricatos se não tivessem custado tanto aos contribuintes. E deveriam ser suficientes para, com decoro, acabar com este pesadelo e procurar uma solução de bom senso e bom gosto, com estratégia de futuro e valorização do património, tornando a Costa um destino turístico de qualidade e durante todo o ano.

Mas o que vemos? Isto. A vontade de prosseguir o delírio, à custa da solução do costume: mais dinheiro, que o país não tem, e negócios com terrenos, a que, quem sabe, se pode juntar mais alguma acção violenta contra quem se atravessa no caminho. É a história daqueles a quem o autor do blogue ambientalista a-sul chamou «interesses rascas».

Conservo cuidadosamente o boletim municipal em que me acusaram de impedir a unanimidade em torno do Polis. Hoje seremos dois. Que se saiba.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem observado, porque ainda há quem ache que esse aborto tem que continuar. Esta gentinha usa o nosso dinheiro para as suas negociatas e ainda bem que há quem lhes faz frente. Bem-haja.