Feijó, 30 de Setembro de 2013
Senhor Presidente,
Senhores Deputados Municipais,
Esta é a última sessão da Assembleia Municipal de Almada do mandato de 2009 a 2013 e, por isso, proporciona-se uma breve reflexão em jeito de balanço.
Do ponto de vista pessoal, por vontade clara dos almadenses, encerra-se a minha participação institucional na vida pública do nosso concelho. Apresentei-me a sufrágio como cabeça de lista à Câmara Municipal, tendo sofrido uma expressiva derrota.
Não posso deixar, porém, de agradecer aos eleitores que me confiaram os seus votos e assegurar-lhes que procurarei ser digno deles. Agradeço, também, a todos os que, com sacrifício pessoal, participaram na campanha eleitoral do meu partido e procuraram um resultado melhor.
Não será este o espaço para me alongar em explicações dos maus resultados do CDS em Almada, que foram os maus resultados do partido no distrito de Setúbal e em quase toda a Área Metropolitana de Lisboa.
É muito difícil fazer campanha sem dinheiro, confrontar ideias sem debate público ou proporcionar escolhas se não se consegue sequer mostrar que há escolha. Como é difícil dissociar, sobretudo em áreas urbanas, uma candidatura local do contexto nacional.
Sabia as dificuldades óbvias da nossa candidatura, mas não podia voltar as costas a esta forma de participação cívica numa altura em que os políticos têm de ser portadores de esperança, determinação e sentido do bem comum. Não me arrependo de não me ter escudado no conforto da táctica política.
A escolha dos almadenses foi soberana. Parabéns à CDU, ao Dr. Joaquim Judas e ao Presidente José Manuel Maia. Que possam exercer o vosso mandato no melhor interesse do Município de Almada e da sua população.
Da noite eleitoral de ontem resulta, ainda, um aviso sério a todos os partidos. No nosso concelho, temos 60% de abstenção e 9% de votos brancos e nulos, o que deverá preocupar todos aqueles que desejam uma democracia viva e de elevada participação dos cidadãos. Estes números têm de ser lidos com elevada responsabilidade.
Nestes quatro anos que hoje encerram, creio ter sido fiel aos compromissos que assumi, aos princípios fundacionais do meu partido e ao que entendi ser o melhor para Almada e o seu futuro. O nosso grupo municipal procurou desempenhar com qualidade o seu papel de fiscalização da actividade municipal e de apresentação de propostas alternativas. Nunca virámos as costas, mesmo quando a defesa das nossas ideias nos isolou nesta Assembleia.
Este trabalho não foi reconhecido, ou simplesmente não conhecido, pelos eleitores. A este facto não será alheio o apagão a que a comunicação social nos votou. Mas estas são as vicissitudes próprias de uma democracia.
O que me trouxe à política partidária foi a procura de contribuir para a construção do bem comum. Sempre procurei servir Almada e os almadenses, do melhor modo que soube e consegui. Neste percurso, em que não faltaram erros, creio ter-me mantido fiel aos meus princípios e à minha forma de olhar a cidade. Saio com a sensação de dever cumprido.
Guardarei de um modo especial a luta pela preservação dos solos protegidos contra o projecto da Estrada Regional 377-2. Tem sido uma luta da cidadania e da verdade. Não dou por perdidos o esforço e as horas gastas. Tivemos um partido unido em torno de uma causa. A política faz-se assim.
E que difícil é fazer política num país que caminha para a indigência, parasitado por interesses ilegítimos, com tantas famílias sacrificadas em favor dos privilégios de alguns – muito poucos – que tomaram de assalto os centros de decisão política em seu favor.
Basta ver a ruína das parcerias público-privadas, as rendas energéticas, a falta de transparência de privatizações e contratos públicos, a subserviência ao sector financeiro, a forma ligeira como se salta do governo para a administração de grupos favorecidos pelas decisões políticas, ou a impunidade da má gestão de empresas públicas e autarquias.
E, ainda assim, ou talvez ainda mais por isso, o bem de toda a comunidade exige a nossa participação na vida política, com responsabilidade e convicção. Desistir não é certamente solução. Pertenço a um partido que tem um projecto político personalista e uma matriz democrata-cristã. Será nele e a partir dele que procurarei dar o meu contributo.
Muito obrigado.
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