O texto seguinte foi apresentado na Assembleia Municipal de Almada de 19 de Abril. A esquerda chumbou o projecto, zelosa das avenidas, ruas, praças, largos e travessas com o nome de MFA, e das placas toponímicas que ostentam a foice e o martelo.
Fica pelo menos a esperança de que tais objectos sejam daqui a uns tempos um espólio arqueológico, legado pelos senhores deputados municipais que ficaram agarrados a um período negro da história da humanidade.
ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALMADA
PROJECTO
DE RECOMENDAÇÃO
A toponímia
de um local constitui a recordação de acontecimentos e costumes, a conservação
da memória cultural, a preservação da identidade de um povo, a homenagem a
pessoas.
As placas
toponímicas dão corpo a essa vontade, despertam o interesse, permitem manter um
vínculo ao passado da terra e das suas gentes, ajudam a compreender o presente.
Elas são um álbum diversificado, por vezes pitoresco, que não deve estar
sujeito a conjunturas, fantasias ou controlo ideológico.
«Sendo racionais e distintivos, os topónimos nunca
poderão entretanto ser entendidos sem o contexto em que se inserem ou
inseriram. A nomeação de um lugar nunca pode separar-se da sua geografia, da
sua história e da sua mitologia. Embora nem todos os nomes vejam o(s) seu(s)
significado(s) apoiado(s) em múltiplas referências contextuais, parece-me
imprescindível trabalhar nesta base metodológica, que não dispensa o
conhecimento integrado da cultura local nas suas várias dimensões.» (Ruy Ventura)
Até ao
século XIX, a toponímia urbana era essencialmente funcional. «A toponímia antiga, fosse rural ou urbana,
partia do conhecimento profundo dos lugares, nascendo da observação cuidada e
experimentada para a nomeação dos múltiplos espaços da localidade e sua
envolvência.» (idem). Só a partir dessa data começou a ser permeável a
objectivos doutrinários e a estratégias de regime, desligando-se frequentemente
da memória colectiva.
A Assembleia
Municipal de Almada, reunida a 19 de Abril de 2012, recomenda à Câmara
Municipal de Almada:
1) a criação de uma Comissão de
Revisão de Toponímia, com vista a que os topónimos sejam mais fieis à geografia
e à história do concelho de Almada, e à sua memória colectiva, o que permitirá
uma maior identificação dos cidadãos com a sua terra;
2) a adopção do método
etnológico na revisão da toponímia;
3) a eliminação de quaisquer
símbolos partidários das placas toponímicas, reconhecidas como espaço de
preservação de identidade da terra e não de propaganda política.
Os
Deputados Municipais proponentes,
Fernando
Sousa da Pena
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