sábado, 21 de abril de 2012

Toponímia de Almada

O texto seguinte foi apresentado na Assembleia Municipal de Almada de 19 de Abril. A esquerda chumbou o projecto, zelosa das avenidas, ruas, praças, largos e travessas com o nome de MFA, e das placas toponímicas que ostentam a foice e o martelo.

Fica pelo menos a esperança de que tais objectos sejam daqui a uns tempos um espólio arqueológico, legado pelos senhores deputados municipais que ficaram agarrados a um período negro da história da humanidade.



ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ALMADA
PROJECTO DE RECOMENDAÇÃO

A toponímia de um local constitui a recordação de acontecimentos e costumes, a conservação da memória cultural, a preservação da identidade de um povo, a homenagem a pessoas.

As placas toponímicas dão corpo a essa vontade, despertam o interesse, permitem manter um vínculo ao passado da terra e das suas gentes, ajudam a compreender o presente. Elas são um álbum diversificado, por vezes pitoresco, que não deve estar sujeito a conjunturas, fantasias ou controlo ideológico.

«Sendo racionais e distintivos, os topónimos nunca poderão entretanto ser entendidos sem o contexto em que se inserem ou inseriram. A nomeação de um lugar nunca pode separar-se da sua geografia, da sua história e da sua mitologia. Embora nem todos os nomes vejam o(s) seu(s) significado(s) apoiado(s) em múltiplas referências contextuais, parece-me imprescindível trabalhar nesta base metodológica, que não dispensa o conhecimento integrado da cultura local nas suas várias dimensões.» (Ruy Ventura)

Até ao século XIX, a toponímia urbana era essencialmente funcional. «A toponímia antiga, fosse rural ou urbana, partia do conhecimento profundo dos lugares, nascendo da observação cuidada e experimentada para a nomeação dos múltiplos espaços da localidade e sua envolvência.» (idem). Só a partir dessa data começou a ser permeável a objectivos doutrinários e a estratégias de regime, desligando-se frequentemente da memória colectiva.


A Assembleia Municipal de Almada, reunida a 19 de Abril de 2012, recomenda à Câmara Municipal de Almada:

1) a criação de uma Comissão de Revisão de Toponímia, com vista a que os topónimos sejam mais fieis à geografia e à história do concelho de Almada, e à sua memória colectiva, o que permitirá uma maior identificação dos cidadãos com a sua terra;
2) a adopção do método etnológico na revisão da toponímia;
3) a eliminação de quaisquer símbolos partidários das placas toponímicas, reconhecidas como espaço de preservação de identidade da terra e não de propaganda política.


Os Deputados Municipais proponentes,

Fernando Sousa da Pena
António Pedro Maco

Sem comentários: