terça-feira, 27 de abril de 2010

Discurso na Sessão Comemorativa do 25 de Abril

Senhor Presidente da Assembleia Municipal
Senhora Presidente da Câmara Municipal
Senhores Vereadores
Ilustres Convidados
Senhores Deputados Municipais
Estimados Cidadãos

Estamos hoje aqui reunidos em nome da Liberdade. Ela é o maior dom que ao homem foi concedido e é indispensável à plena afirmação da sua dignidade. Com ela podemos questionar, concordar, exigir ou discordar. Com a Liberdade, a cada pessoa é reconhecido o direito de ajuizar, ainda que tantas vezes de modo defectível, sobre o seu próprio bem. Em Liberdade devemos poder escolher. E essa Liberdade exige que se garanta os meios mínimos de acesso à escolha e não, em nome dessa garantia, substituir ou impedir a escolha.

Hoje celebramos o 25 de Abril da Liberdade. O 25 de Abril de homens honrados e patriotas como Salgueiro Maia ou José Sanches Osório. O 25 de Abril sem donos nem exclusivos. O 25 de Abril da vontade de mudança. O 25 de Abril da Democracia.

Mas não celebramos as centenas de prisões arbitrárias, os mandatos de captura em branco, as pilhagens, as expropriações, os roubos, as perseguições, os saneamentos de pessoas e livros, as vinganças pessoais.

Não celebramos um movimento terrorista que tomou o nome do 25 de Abril e cujas vítimas inocentes viram as suas sepulturas ultrajadas pela política e pela justiça de um país que tantas vezes não se leva à séria. [ver nota final]

Como não celebramos aqueles que decidiram branquear páginas negras da nossa história. Aqueles que no período antes do 25 de Abril apoiaram regimes tenebrosos que deixaram na história da humanidade um rasto de dezenas de milhões de mortos. Aqueles que no período revolucionário procuraram instaurar em Portugal um Estado totalitário. Aqueles que no período democrático – que até ao fim procuraram deter – foram um travão ao desenvolvimento económico do país. Aqueles que tiveram a vitória política mais significativa numa tragédia em África.

O texto do Programa do MFA sobre os Territórios Ultramarinos previa a sua autodeterminação através de referendos organizados pela ONU. A revisão marxista consistiu no abandono de brancos, pretos e mestiço, terras, armas e bandeiras, para pilhagem dos movimentos a mando soviético. As consequências foram as que se conhecem: milhões de vidas perdidas e um declínio económico dramático. A estes pretensos proprietários do 25 de Abril e de um alegado antifascismo que só eles conhecem, os democratas não têm nada a agradecer. E muito menos a celebrar.

Senhor Presidente, vivemos hoje num país, e num concelho, em que esses mesmos que traíram a vontade de Liberdade de um povo persistem enraizados na estrutura do Estado e mantêm o discurso e os métodos, contemplando uma utopia em que o homem fique esvaziado da sua individualidade. Vivemos num país e num concelho onde há ainda muitos muros por cair.

Vivemos num país em que os cidadãos não confiam na Justiça e em que a protecção assegurada aos criminosos assume patamares de indignidade. Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Vivemos num país e num concelho em que o poder do Estado e da Autarquia asfixia os cidadãos e as empresas em impostos, taxas, regulamentos e burocracia sem sentido. Num país e num concelho em que a Liberdade de ter iniciativa é ameaçada. Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Vivemos num país e num concelho em que a liberdade de escolha na educação e na saúde é uma realidade apenas para os que têm dinheiro para a comprar. Comprar a Liberdade... Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Vivemos num país e num concelho que não protege a família e a maternidade, e em que pessoas que entregaram a sua vida ao trabalho e aos outros terminam os seus dias abandonadas à pobreza e à solidão. Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Vivemos num concelho em que a criminalidade e o vandalismo tomam conta do espaço público, enquanto o município prefere perseguir cidadãos de bem com uma empresa municipal espúria. Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Vivemos num concelho em que os despojos da propriedade saqueada no PREC estão em grande parte abandonados, num concelho em que a paisagem, o património e a história são esmagados pelo poder do betão, sem memória e sem esperança. Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Vivemos num concelho em que muitas pessoas vivem em condições de vida indignas, em lugares entregues à lama e ao lixo, onde os transportes não chegam, que as autoridades ignoram, ao mesmo tempo que se gasta centenas de milhões de euros num Programa Polis inaceitável, que apenas alimenta clientelas. Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Vivemos num concelho em que a Autarquia ameaça agricultores que herdaram uma conquista notável dos seus antepassados e pretende arrasar o mais rico património natural do concelho em nome de uma estrada inútil e criminosa. Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Vivemos num concelho em que há medo de expressar opinião contrária porque o apparatchik partidário tomou conta do bem público, e em que a propaganda e os subsídios são armas de promoção partidária. Não, este não é o nosso 25 de Abril.

Senhor Presidente, não basta celebrar a Liberdade e a Democracia. Porque uma democracia em que o poder corre em circuito fechado não é digna da herança que recebeu. De pouco vale celebrar a data da mudança de um regime se o vento continuar a calar a desgraça.

Queremos hoje estar aqui a celebrar com o 25 de Abril a alegria de podermos tomar em nossas mãos a decisão e a Liberdade, até de errar o caminho. Como deveremos estar aqui a celebrar, no dia 10 de Junho, a aventura de um povo que se superou e partiu mundo fora numa epopeia inesquecível. Como deveremos estar aqui a celebrar, no dia 25 de Novembro, o fim de uma ditadura militar marxista e a abertura de uma nova esperança que falta cumprir desde 4 de Dezembro de 1980. E como deveremos estar aqui a celebrar, no dia 1 de Dezembro, o momento em que recuperámos uma pátria e uma bandeira.

Este é um povo que tem uma história heróica, capaz de amar a Liberdade e tomar em mãos o seu destino. Terra de Santa Maria. Viva Portugal!



NOTA: O parágrafo sobre movimento terrorista diz respeito às FP25, que usurparam a data para legitimar crimes de sangue. Este parágrafo gerou algumas interpretações equívocas, pelo que presto este esclarecimento.

12 comentários:

Fernando Sousa da Pena disse...

Este discurso fez a Presidente da Câmara Municipal e alguns dos seus seguidores abandonar a sala.

Estão habituados a não ouvir as verdades, num concelho de que se julgam (e muitas vezes são...) donos. E depois dão estes tristes exemplos de falta de sentido democrático.

Não conseguiram perpetuar no país um totalitarismo comunista, mas no feudo do seu concelho não toleram opiniões contrárias e comportam-se como pequenos ditadores.

Mas, enfim, há-de chegar o dia em que já não haverá ninguém para ouvir palavras que parecem saídas de bafientas catacumbas soviéticas que um dia quiseram impor ao país.

Anónimo disse...

Muito bem Fernando Pena gostei do seu discurso ontem na assembleia foi sem duvida o melhor discurso e disse a verdade tal como ela é. Continue assim e parabens.

Precisavamos de mais pessoas como o senhor a lutar contra estes pretensos democratas comunistas que envorganham os verdadeiros democratas de esquerda.

Força e nunca tenha medo.

Anónimo disse...

Pena,

Os meus sinceros parabens.
Grande discurso.

Abraço,

Pedro de Assunção
CPC CDS-PP Setúbal e tambem um Almadense que desistiu de o ser.

Anónimo disse...

Desde que alguém lhes recorde o terreno pantanoso que pisam, desde que alguém lhes indique o (mau) caminho que trilham, é evidente que são atingidos por uma onda de raiva.
Coram mas tentam disfarçar.

E que tal as assobiadelas com que sua Exa. a presidente foi vaiada?
Igualmente sintomático, creio.

Anónimo disse...

Excelente discurso!

Foca as principais incoerências destes “donos de Abril”… As suas medidas marxistas empobreceram o país e condenaram regiões inteiras à decadência!

Se o Estado Novo era mau, a Pseudo-Democracia da Srªa Presidente e “sus muchachos” é mil vezes pior…

Ela deve ter ficado possessa… (é muito bem feito, lol)

Para acabar em beleza, o ideal seria esse discurso terminar com um “Viva o 25 de Abril, Viva a verdadeira Democracia, Viva Portugal”.

Anónimo disse...

Belíssima intervenção, corajosa e determinada. Bem precisamos de gente assim em Almada. Parabéns.

Anónimo disse...

Curioso discurso.Falram-me nele e euvim "espreitar".Curiosidade,somente é pena que seja tão mais do mesmo.
Tambem ele cheio de ressábiamento.
Aliás, é um discurso também pode ser lido ao contrário porque "esconde", de propósito factos Históricos.Ora,para um professor é grave...não? L.R.

Fernando Sousa da Pena disse...

Cara(o) L. R., gostaria muito de responder, mas o seu comentário é demasiado vago para o permitir. Ressabiamento, garantidamente nenhum. O que acho é que não podemos ter uma parte da história contada só por uma parte, que tem imposto a sua interpretação/distorção dos acontecimentos.

Quanto a alegados factos escondidos, como não sei do fala não posso apreciar.

Mas, decerto, nos discursos oficiais de uma certa esquerda encontrará muitas omissões, ilusões e mentiras.

Obrigado pela participação.

Anónimo disse...

Caro sr,um discurso que omite terrorismo do ELP/MDLP,assassinatos
de padres, assaltos a sedes de partidos no norte de Portugal,omite o esforço do Grupo dos 9, em que, estes sim, é que travaram todas as tentativas de ditadura em Portugal....!
Para o sr o "heroi",foi o sr Sanches Osório (um golpista).
O sr esqueçeu-se, de Melo Antunes?
Pois, o sr "esqueçeu-se "de muita coisa, inclusivé de falar num partido(CDS)), que nessa época, então com um tal de Freitas do Amaral, estáva envolvido com tudo o que fosse EXTREMA DIREITA( Kaulza,Alpoim Galvão),etc?
O sr omitiu,o que é grave, que não houve "só" terrorismo de um lado, então e outro???Pois ao "OUTRO", disse nada...
Mas,eu entendo, era muito novo, ou então contaram-lhe uma estórias enviesadas.L.R.

Fernando Sousa da Pena disse...

O meu discurso não era uma tese sobre os acontecimentos do 25 de Abril. Mas, permita-me, muito do que escreve está longe da realidade e faz parte da cartilha marxista que, como sabe, deixou um rasto muito sujo por todo o mundo.

Discordamos no que se pode tomar como facto? É natural. Discordamos da interpretação do que sucedeu? Claro.

Termino só com um esclarecimento. A referência no meu discurso a terroristas diz respeito às FP25, que contaram com uma complacência política e judicial inaceitável num estado de direito.

EMALMADA disse...

Excelente intervenção.
É assim que se faz política de cidadania.
Como Almadense, munícipe e cidadão aplaudo.

Almada só mudará com oposição que fala sem medos e sem complexos diante de estes farsantes e auto-intitulados comunistas que exploram fragilidades do povo.

Anónimo disse...

Curioso registo, mais uma vez nem uma só referência ao Grupo dos 9 que travaram uma quase certa guerra civil....

Realmente quando criticamos os outros de séctarismo histórico...
Pois, claro tudo o resto é "cartilha marxista"...!!
Pois caro sr, não sei se sabe, ou se calhar nem lhe contaram, mas nessa época, até o CDS se afirmava do: "socialismo"...
Pois, era para ficar bem no "retrato"....!
Mas isso era estar a contar-lhe Histórias, que o deixavam muito infeliz,e talvez mesmo envergonhado, com um certo Partido.

PS: Que fique claro, que para o sr professor ,terrorismo que vale apena lembrar,é só um ...
Claro, o "OUTRO", digamos, no minimo é "embaraçante",não é? Depois, tinhamos que fazer uma "tese",enfim, só chatiçes pá, o mehor mesmo é "fazer de conta", não ??? L.R.