quarta-feira, 6 de março de 2013

Conta-me como foi (parte 1)

Em 2009, o Programa Eleitoral com que me apresentei aos almadenses tinha como introdução o texto que segue. Passados quatro anos, parece que tudo se mantém actual, num concelho paralisado e decadente. As pessoas de Almada mereciam mais.

«Na emergência do terceiro milénio, Almada está num momento determinante para o seu desenvolvimento. Os cidadãos serão chamados a decidir, fundamentalmente, entre a continuação de um modelo ortodoxo —que mostra evidentes sinais de desgaste— e um novo paradigma urbano, feito pelas pessoas e para as pessoas, de inovação e audácia.

A globalização representa um desafio que não podemos continuar a ignorar. A era industrial entrou numa nova fase e as tecnologias de informação e comunicação alteraram o quotidiano e as relações económicas, romperam barreiras geográficas e rasgaram novos espaços de liberdade.

A qualidade de vida, o sistema educativo, o acesso à informação e ao conhecimento, a integração das metrópoles em redes internacionais, a capacidade de gerar e atrair novas ideias, as pessoas e a sua identificação com a cidade, são factores de diferenciação das cidades modernas.

Num mundo globalizado, é fundamental assumir as diferenças locais. Almada pode ser um local deste mundo global onde se geram ideias inovadoras, uma cidade comprometida com o futuro e que atraia pessoas e projectos. Ou somos capazes de criar conhecimento ou dependeremos do conhecimento gerado por outros. Ou somos capazes de ombrear com outras metrópoles mundiais, ou ficaremos à margem. Ou somos capazes de nos superar com criatividade e valores, ou não conseguiremos responder aos desafios do século XXI.

Neste repto temos ainda de compreender que o rio, o mar, as praias, a floresta, as terras agrícolas, o património histórico, arqueológico e natural, a paisagem e as práticas ancestrais são também mais-valias económicas que geram competitividade.

Almada tem mais de 30 anos de poder comunista. Com uma marca própria e algumas intervenções relevantes. Mas com um erro estratégico ruinoso quando, em sede de Plano Director Municipal, assumiu a construção como o grande desígnio do concelho.

É este, aliás, o propósito continuado na recente proposta de revisão do PDM apresentada pela autarquia, que persiste num planeamento urbano e paisagístico pernicioso e na repetição de modelos esgotados, há muito deixados de lado pelas mais florescentes cidades ocidentais.

As opções fundamentais de ordenamento do território ignoram a urgente gestão integrada dos sistemas natural e edificado, e estabelecem um planeamento a retalho, artificial, obsoleto e essencialmente inútil. Modelo que ecoa no Programa Polis da Costa de Caparica que, depois de nascer como um arrependimento público pelos erros do passado, acentua uma inaceitável pressão imobiliária e viária sobre o litoral e ignora a mais evidente riqueza patrimonial do local.

Sob a lógica do betão, cresceu uma cidade desordenada, suja, esmagada por construção sem regras nem limites, de costas voltadas para o rio e o mar, salpicada por rotundas e remendos de relva de má consciência, sem espaço público generoso e aprazível, tantas vezes rendida ao vandalismo. Projectaram-se espaços urbanos incoerentes, atafulhados, agrestes, ruidosos, em que o vagaroso fluir da vida sucumbiu à vontade de nos espantar os sentidos com intervenções sucessivas.

Negligenciou-se o património e destruiu-se a paisagem e, com ela, a memória das nossas gentes e parte importante da nossa identidade.

Tudo ao abrigo de um eficiente aparelho de propaganda —pago pelo erário público—, de acções tão ostentosas como inconsequentes e da distribuição de apoios que condicionam muitas forças do concelho.

Almada não pode perder mais tempo em soluções do passado, partilhadas entre um poder estafado e uma oposição envergonhada. A escolha não pode ser entre a autarquia do betão e dos subsídios, e os partidos que em tantas décadas foram seus cúmplices.

Almada não pode continuar a ser um concelho de oportunidades perdidas, sem qualquer proveito de uma geografia privilegiada —que proporciona rio, mar, praias, mata, paisagem, às portas da capital e a poucos quilómetros da serra.

A proposta do CDS, plasmada neste Programa Eleitoral, opta por uma enérgica estratégia de renovação, que identifique oportunidades e construa uma cidade de qualidade de vida, inovação e conhecimento. Sempre olhando para as pessoas. Para cada pessoa.

Muito há a fazer. Na gestão do serviço público, criando-se uma autarquia amiga dos munícipes, das famílias e das empresas, moderna e eficiente, sem burocracias inúteis e com impostos e taxas mais baixos, que permitam aos cidadãos e às empresas libertar-se e ter iniciativa criadora.

Na atenção dada aos problemas reais das pessoas e na eficácia das funções quotidianas do governo municipal.

No fortalecimento da economia urbana e do empresariado.

Na revalorização da paisagem, reconhecida como primeiro património do concelho, na recuperação do legado histórico, no desenvolvimento da agricultura urbana e na criação de uma rede moderna de corredores verdes.

Na extensão da metrópole ao rio e ao mar, capital natural privilegiado para a construção do seu futuro.

Na gestão moderna e efectiva da água e no investimento sério e inovador nas energias renováveis, elementos cruciais para um desenvolvimento sustentável do concelho.

Na conversão do espaço público nisso mesmo, público, limpo, ordenado, acessível, seguro, livre. Para que a cidade seja acolhedora, viva, vibrante.

No combate vigoroso ao vandalismo e à pequena delinquência, passo fundamental para o bem-estar dos cidadãos e a prevenção da criminalidade grave.

Na manutenção qualificada da rede viária e na reformulação racional do metropolitano de superfície e do plano de mobilidade, privilegiando-se a acessibilidade.

Na definição de Almada como terra de valores e de integração social. Que reconheça a dignidade inalienável de cada vida humana e valorize o papel social dos idosos.

Na construção de uma cidade de conhecimento, que assuma a sofisticação cultural e a educação de qualidade internacional como motores indispensáveis da valorização pessoal.

Na regeneração de todo o património cultural, na qualificação do turismo assente na paisagem biologicamente valorizada e da oferta hoteleira de elevado profissionalismo.

Temos de preparar-nos para uma economia que durante o século XXI dependerá da inovação científica geradora de novas tecnologias, da capacidade de conectar o fluxo de conhecimentos com pessoas suficientemente preparadas na investigação e na universidade, e da oferta ao mundo das suas iniciativas.

Almada capital de inovação, qualidade de vida, cultura e conhecimento. Uma metrópole que para o seu projecto procure pessoas que, conscientes de participar de um mesmo mundo, se comprometam a participar da riqueza da sua identidade diferenciada e da sua pertença a uma realidade solidária.

Um vibrante motor de Progresso, Liberdade e Bem-estar. Que exige soluções modernas e ousadas. Uma cidade global que aposta nas pessoas e na construção do seu futuro. Uma ideia de futuro com que o CDS se compromete e para que desafia os cidadãos e a sua energia: ALMADA XXI!»

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma delícia ler um programa eleitoral com pés e cabeça. Porque razão escolheu logo o CDS/PP? Ms pergunto ainda mais: porque razão não o quer o CDS/PP a si? A estupidez política não tem fim.